quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Alma em fúria!




Por favor, não se aproxime de mim. Estou como um frágil balão a segundos de uma explosão de tanto que lhe enchem. Mais um sopro, não sei o que pode acontecer.
Por favor, não fale comigo. Respeite minha introspecção. Não quero vozes que me invadam sem minha permissão. Desejo o silêncio como único amigo.
Por favor, não me peça palavras. Dores agudas travam minha fala.
Por favor, não me peça sorrisos. Estou em luto, imersa num sombrio mundo.
Por favor, não me peça abraços. Fardos pesados cansaram meus braços.
Por favor, não me peça calma. Seja paciente com minha impaciente alma.

Quero a solidão como única companhia. Ouvir somente a voz do silêncio. Quero esvaziar de mim através de aturdidas lágrimas. Isso é raiva mesmo, e daí?
Por favor, desculpe-me. A raiva não é de você, ela é de mim. Entenda: quando não estou em mim não consigo estar com você. Só preciso de paz, ficar comigo mesma por um tempo; fugir para um lugar onde só esteja eu e eu. Preciso desoxigenar a alma, tirar essa angústia que a consome. Refrigerar!
Meu Deus tira de mim essa raiva de mim. Sinto-me tão fraca e incapaz, por uma presente ausência.
Um complexo quebra-cabeça. Alto grau de dificuldade. Ainda há peças faltando em mim. Falta a do coração, principal peça. Quando acredito que achei a peça para encaixar naquele espaço e descubro que ainda não é, enlouqueço, enfureço!
Minha vontade é desmontar as peças já montadas, guarda-las na caixa e nunca mais abri-la.
Num quebra-cabeça ficamos ansiosos, enfurecidos ao não conseguirmos montá-lo querendo desmontar e desistir para sempre. Porém se dermos um tempo, uma relaxada, uma respirada, a fúria desvanece e, mais calmos, podemos voltar e continuar. A calma nos permite pensar melhor, visualizar de forma mais ampla, obter clareza.
A raiva é como a viseira de cavalos; faz-nos ver somente o que está a nossa frente, as impossibilidades, os obstáculos, nossa incapacidade. Essa raiva me diz para desistir desse quebra-cabeça; ela me diz que eu não tenho capacidade para achar aquela peça; não sou boa no quebra-cabeça da vida, sou pequena para um nível tão alto.
Sei que se eu conseguir encaixar a peça que mais preciso, as demais aparecerão naturalmente. Ao mesmo tempo a falta dessa peça me faz procurar só por ela e deixo de lado outras importantes peças.
Interessante conclusão. Se eu conseguir encaixar as peças que parecem mais fáceis, deixando de focar somente em uma, posso conseguir achar aquela que tanto procuro. Embaralhadas peças que indo para seus lugares, deixam outras mais fáceis de acessar. Então é necessário mudar o foco, encaixar as peças que estão encobrindo aquela que mais preciso. Quando menos eu esperar ela poderá se revelar.
A peça do coração, que dá completude à alma. Só espero que eu não a tenha chutado para longe naquele ataque de fúria tendo-a feito parar num inacessível lugar!

Haliny

"A vida é um quebra-cabeça com milhares, milhões de peças. Mas acontece que o quebra-cabeças da vida não vem acompanhado de um modelo. (...)
O modelo precisa ser inventado . E é somente o coração, ajudado pela inteligência, que pode fazer isso. "

(Rubem Alves)

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