quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Flor de vale


Flor de vale

Pela manhã, a caminho do trabalho, um amigo me perguntou:
-Haliny viu aquela flor ali no pasto? Tão bonita. Interessante é que ela se destaca em meio ao verde.
-Ah amigo! Que sublime reflexão! Você acaba de me presentear levando minha alma por uma brilhante metáfora vagar.

Flor de vale.

Solitária, ela nasce em brutas e desprezadas terras; por vezes em brejos fétidos, grosseiras rochas, alto mato. Suporta a chuva, o frio do inverno, o quente sol do verão. Flor que não se rende fácil às muitas dificuldades.
Ela é forte e as dificuldades parecem torná-la ainda mais interessante. Pois ali, sozinha, cercada por uma sóbria paisagem é que sua beleza resplandece. Ela é o tudo em meio ao nada. Não nasceu para se mostrar a alguém; ela é bela porque se completa. Ela sabe extrair daquele lugar, o que necessita para crescer. E tudo isso ela faz sem esperar que alguém a olhe e diga  quão bela ela é. Ela é assim porque ser ela, sem interesses, é sua essência. Ela transmite alegria, embeleza a terra, faz vibrar a vida, exala um suave perfume.

Flor de vale.

É tão interessante, chega a ser divina. É esse cenário rude que a destaca e ela, por outro lado, torna belo o que é feio, ou seja, quem olharia para aquele lugar se ali não houvesse uma linda flor? Sua beleza não seria tão notável se vivesse num grande jardim cercada por outras flores, já que estas....
Ah! Outras flores sufocariam e disputariam sua beleza! É ali, em meio ao nada que ela chama atenção, sem nada querer, sem nada esperar, até que alguém a veja, e sobre ela, talvez, escreva. É, foi em meio ao nada, em meio a dolorosas vivências, que ela fez história, foi notada, virou poesia, tornou-se eternizada.

Flor de vale.

Como fazer beleza em meio ao nada?
Quando eu  crescer quero ser como ela. Mesmo solitária é forte, linda por acreditar em si mesma, sem esperar que alguém a reconheça. Quero aprender a ter essa essência; apenas viver, mesmo que ao meu redor haja um sombrio cenário. Quero fazer beleza mesmo estando em solidão; exalar um perfume suave mesmo que em volta seja podridão.
Flor de vale é coisa rara. Ser bela em meio ao nada, sem em troca nada esperar, são poucos que conseguem tal proeza. É para quem é forte, que não se deixa vencer pelas dificuldades, não se rende facilmente, não se entrega às grossas regras, que vive para si, e não para por outros ser aprovada.

Quero ser uma flor de vale. Não para que isso aconteça, mas quem sabe um dia, eu também seja casualmente notada e me torne motivo de poesia de uma bela alma?
Acho que flor de vale também pode sonhar...

Haliny

Dedico estes versos ao estimado companheiro das diárias e longas jornadas para o trabalho, um ser humano de altíssima qualidade e presteza ao próximo, Marcelo – o amigo que me mostrou a flor.     
Que deu origem ao "Flor de vale"


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Perdão



Hoje seu perfil é um espaço em branco. Terminou da pior maneira possível nossa não existente estranha relação. Me entreguei, mergulhei, me afoguei, chorei tentando viver o que eu queria e não vi que te feria. Tentei fazer de você a realidade para o meu sonho. Em vão.
Como eu ainda penso em você? Como ainda choro por você? Como ainda escrevo pra você? Como ainda aplaudo você, admiro sua apresentação? Você não faz show; sua existência já brilha por si só. Você nunca esteve totalmente presente, mas sua ausência ainda me perturba. Sinto tanta falta! Nunca vou deixar de acreditar que você é lindo. Você foi um presente de Deus. Presentes de Deus são divinos, especiais, feitos por Ele na exata medida da qual necessitamos. Mas muitas vezes, nós, pecadores, seres humanos falhos, maus, não sabemos como usufruir do presente da maneira como Ele objetiva que o utilizamos. Desejamos que sejam mais do que aquilo que ele deve ser. Somos egoístas, transferimos para ele nossas próprias idealizações e frustrantes expectativas. A medida em que Deus nos dá é a perfeita para completar nossa necessidade. Mas nós não entendemos. Usando o presente de forma equivocada, acabamos quebrando-o.
Foi o que fiz. Sua amizade Deus me deu, mas quebrei meu presente, como uma criança birrenta insatisfeita. Quebrei você. Agora, sabendo que não há conserto, sabendo que nunca mais poderemos ter falas camaradas, eu, arrependida de tudo, só posso chorar ante as lembranças ainda acesas em minha alma. Eu não soube aproveitar meu presente. Eu não soube entender que o propósito era uma serena amizade. Nunca mais poderei ouvir sua música, nem ler os seus versos. Nunca mais poderei ouvir sua tranquila fala quando por hora compartilhávamos histórias em gostosas ligações.
Há dezessete dias eu quebrei meu presente, ferindo você, traí sua confiança por completo. Mas desde aquela noite na qual o conheci, não soube tê-lo. Deus por ser misericordioso com seus errados filhos, pode até me enviar outros presentes, mas nenhum que seja para ocupar o espaço que ficou no lugar que era para você – agora, um  espaço em branco. Desse modo eu sei que isso, é para sempre que eu ao  olhar para esse espaço vazio, sentir a dor do arrependimento por não ter tido cuidado do presente que Ele me dera; aquele que completaria minha alma. Essa dor me acompanhará para sempre, para que eu jamais esqueça o que posso vir a perder se novamente eu der voz ao meu egoísmo.
Narcisismo! Eu entendo que amei você, mas o que fiz foi só querer satisfazer meus próprios anseios. Afinal, o amor não veio para nos tornar livres? Jesus, O Amor, veio para livrar nossas almas das prisões. Como eu pude querer, te amando, amarrá-lo a mim de qualquer forma? Eu errei ao colocar meu amor próprio acima do amor que nasceu por você; o amor que Cristo me ensinou, eu não soube usar. Amar é dar liberdade. É dando liberdade a quem amamos que se tornam mais próximos.
O adeus, eu já dei a nós e não há volta. Voltei, não para reconstruir nada, pois se colarmos um vaso que se quebra, ficam horríveis marcas, perde-se a beleza genuína. Voltei para reconhecer meus erros com você, reconheço minha pobreza enquanto SER humano. Eu não tenho direito, mas saiba que ao quebrar você, foi também quebrar a mim. Por isso, estou em pedaços que não podem ser reconstruídos. Eu não estou dizendo isso para ter sua compaixão nem mendigar sua atenção outra vez. Não! Só estou dizendo isso porque é meu dever reconhecer que Eu errei – desde o início, e pedir perdão, mesmo sabendo que não tenho direito a tê-lo. Perdoa-me!

Haliny

Sol de verão



Você me enlouquece, me desconcerta.
Já leu meus versos senhor?
Se leu, já sabe.
Se não leu, vou te dizer agora o que dizem:

Minha alma estava imersa num inverno agressivo.
Um dia um raio de sol entrou pela janela tocando sua pele gelada.
Ela foi levemente aquecida.
Já sentiu isso? Aquele calorzinho sereno de sol de inverno? Bom né?
Mas o frio foi mais forte.
Aquele sol não permaneceu me aquecendo.
Foi...

...calor de inverno.

Veio a primavera.
Ah! As flores.
O inverno tinha queimado as flores do jardim da minha alma.
Mas ficaram as raízes. Agora acho que elas estão florescendo novamente.
Primavera antecede verão,
Quente estação.
Sol constante, quente, envolvente.
Aquece minha alma, a faz suar de êxtase.
Sol de verão...

Você é o meu sol de verão.
Chegou aquecendo minha alma.

Então vem, vem me aquecer!
Que seus braços sejam os raios a me envolver
Faça-me queimar com seu calor.
Quero suas mãos junto às minhas,
Abraça-me, se entrelaça em mim.
Vem alimentar as flores do meu jardim.
Seja energia para minha fotossíntese, me faça viver.

Meu sol de verão...

Pena que assim como a estação,
Um dia chegará o momento da separação...

Haliny