Flor de vale
Pela manhã, a
caminho do trabalho, um amigo me perguntou:
-Haliny viu
aquela flor ali no pasto? Tão bonita. Interessante é que ela se destaca em meio
ao verde.
-Ah amigo! Que sublime
reflexão! Você acaba de me presentear levando minha alma por uma brilhante
metáfora vagar.
Flor de vale.
Solitária, ela
nasce em brutas e desprezadas terras; por vezes em brejos fétidos, grosseiras
rochas, alto mato. Suporta a chuva, o frio do inverno, o quente sol do verão. Flor
que não se rende fácil às muitas dificuldades.
Ela é forte e as
dificuldades parecem torná-la ainda mais interessante. Pois ali, sozinha,
cercada por uma sóbria paisagem é que sua beleza resplandece. Ela é o tudo em
meio ao nada. Não nasceu para se mostrar a alguém; ela é bela porque se
completa. Ela sabe extrair daquele lugar, o que necessita para crescer. E tudo
isso ela faz sem esperar que alguém a olhe e diga quão bela ela é. Ela é assim porque ser ela,
sem interesses, é sua essência. Ela transmite alegria, embeleza a terra, faz
vibrar a vida, exala um suave perfume.
Flor de vale.
É tão
interessante, chega a ser divina. É esse cenário rude que a destaca e ela, por
outro lado, torna belo o que é feio, ou seja, quem olharia para aquele lugar se
ali não houvesse uma linda flor? Sua beleza não seria tão notável se vivesse
num grande jardim cercada por outras flores, já que estas....
Ah! Outras flores
sufocariam e disputariam sua beleza! É ali, em meio ao nada que ela chama atenção,
sem nada querer, sem nada esperar, até que alguém a veja, e sobre ela, talvez,
escreva. É, foi em meio ao nada, em meio a dolorosas vivências, que ela fez
história, foi notada, virou poesia, tornou-se eternizada.
Flor de vale.
Como fazer
beleza em meio ao nada?
Quando eu crescer quero ser como ela. Mesmo solitária é
forte, linda por acreditar em si mesma, sem esperar que alguém a reconheça. Quero
aprender a ter essa essência; apenas viver, mesmo que ao meu redor haja um
sombrio cenário. Quero fazer beleza mesmo estando em solidão; exalar um perfume
suave mesmo que em volta seja podridão.
Flor de vale é
coisa rara. Ser bela em meio ao nada, sem em troca nada esperar, são poucos que
conseguem tal proeza. É para quem é forte, que não se deixa vencer pelas
dificuldades, não se rende facilmente, não se entrega às grossas regras, que
vive para si, e não para por outros ser aprovada.
Quero ser uma
flor de vale. Não para que isso aconteça, mas quem sabe um dia, eu também seja
casualmente notada e me torne motivo de poesia de uma bela alma?
Acho que flor de
vale também pode sonhar...
Haliny
Dedico estes versos ao estimado companheiro das
diárias e longas jornadas para o trabalho, um ser humano de altíssima qualidade
e presteza ao próximo, Marcelo – o amigo que me mostrou a flor.