A minha frente a
folha de papel em branco, ansiando que a caneta ao lado penetre suas linhas
vazias. Cansada de viver branca e limpa, deseja que aquela caneta lhe marque,
lambuze de tinta. Ela deseja conhecer uma história; aliás, ela deseja portar
uma história, tornar-se interessante aos olhos de quem a vê. Branca, quem a
observará? Mas escrita, marcada, rabiscada, desenhada, atrairá atenção.
Eu ali, olhando
aquela folha em branco; a mente divagando... A folha: branca; minha alma:
vazia. Não há palavras, não há escrita. E a folha lá continuou, completa de
vazios...
Recordo-me daqueles
dias em que eu chegava na escola para trabalhar, um tempo antes do horário da
aula. Ao invés de ir para a sala de professores, eu preferia me refugiar na
sala de aula vazia. Degustava o momento... a sala vazia, sem a costumeira
agitação dos alunos, aquele silêncio criava um contraste; diferente do que
seria minutos em seguida, naquele momento, o silêncio é que gritava. Eu
aproveitava aquele momento de solidão. Lia, refletia, escrevia, pensava,
chorava...
Mas houve um
daqueles dias em que eu, sentada naquela sala olhando para o nada, vi algo
além. Quem já teve a oportunidade de adentrar uma sala de aula, sabe que é
normal ser um ambiente com uma decoração peculiar. As paredes cobertas de
cartazes, desenhos, trabalhos dos alunos, recadinhos do professor, exposições
de textos, temas; isso a faz ser dinâmica, viva. É muito legal porque a gente
fica olhando aquelas atividades expostas, lendo os conteúdos, as mensagens e,
com isso, podemos conhecer parte das histórias de vida dos alunos que por ali passam
um período da vida.
Quantas vezes eu
já tinha entrado naquela sala. Mas naquele dia eu vi: as paredes estavam
brancas, vazias. Uma tristeza se deu em mim, aquela sala não tinha história,
não tinha vida. Paredes brancas são mortas.
É interessante
observar que a escola tinha passado por uma reforma. As paredes foram pintadas,
portanto, não seria legal marcar as paredes recém pintadas. Ordem da direção,
manter as paredes limpas para preservar. É compreensível, mas nem sempre
limpeza demais é saudável.
Bom, isso nos
faz pensar que a vida é como uma sala de paredes brancas. É normal que a
sociedade, a família, a religião, etc., nos digam que devemos nos manter
limpos. Mas até onde essa limpeza nos ensina a viver, mostrar o que somos?
Somos alunos na escola da vida, gerenciamos nossa sala. Nossas paredes devem
ser decoradas com nossas ações, fruto das nossas escolhas, onde expomos nossos
erros e acertos e, por isso, vamos crescendo, evoluindo e amadurecendo. As
sujeiras podem se tornar aprendizagens. E estas é que nos ajudam a preencher
nossos vazios.
Por vezes não
conseguimos compor a nossa história. Por vezes, silenciamos nossa vida. Mas
devemos escrevê-la, sem medo de errar, pois errando, temos a oportunidade do
concerto; concertando, fluímos mais de nós mesmos e, com isso, gerenciamos com
maior segurança nossa humanidade.
De repente, me
volto novamente àquela folha em branco. Desbloqueando a mente, pego a caneta.
Ainda não tenho as palavras... o importante é escrever. Se sairão palavras
harmoniosas, belas poesias, não há garantia; se terão coesão, não sei. E isso
realmente não importa! Disformes, tímidas, sombrias, borradas, tristes ou sem
sentido, necessário é colocá-las na folha em branco. Depois vamos arrumando,
fazendo os ajustes. Mas permitir que saiam, que fluam, pois com erros e
concertos, uma história vai se fazendo.
As razões para
escrever? Para dar sentido a uma existência vazia, permitir que a vida produza
histórias, seja vista, seja lida. Compor a própria história, dar cor à alma
sombria – escrever para não ser uma página em branco, escrever para viver!
Haliny