domingo, 23 de fevereiro de 2020

Café da manhã

Venha meu amor, que te espero para o café. Venha que já pus a mesa, coloquei sua xícara ao lado da minha, fiz seu bolo preferido.
Venha meu amor, que o sol já está a brilhar na janela e os pássaros entoam a sonata matinal.
Venha correndo meu amor, não demore, pois tenho fome, fome da sua presença. Venha que quero sentir seu perfume que amo.
Venha  meu amor me fazer sorrir, ser o motivo da minha poesia, venha tirar dos meus lábios nossa melodia.
Venha meu amor que a saudade grita, dissipe meu medo de te perder. Venha me dar aquele “Bom dia meu anjo” que só você sabe.
Venha meu amor, compartilhar comigo esta manhã de domingo; o jazz já está a tocar, venha me fazer balançar.
Venha meu amor, que você me deixou apaixonadinha no seu jeitinho particular.
Venha meu amor que te espero. Não deixe nosso café esfriar...

                                                                                     Haliny

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Sorrisos não nascem de almas mortas




Nesse começo de 2020 realmente estou desanimada. Não está sendo muito diferente do que fora o começo de 2019, quando eu escrevia “A garota de dez anos atrás”. Interessante, hoje enquanto escrevo o que me vem à cabeça nesse quatorze de janeiro de dois mil e vinte, me pareço mais com a garota de dez anos atrás. Desanimada, sem perspectiva de mudanças, reclamando da atual situação. Sim; no começo do ano anterior, eu me via um pouco frustrada com a vida profissional que eu teria. Mas ainda que não fosse para lecionar, eu tinha um emprego garantido. Hoje, posso me considerar sem emprego, após uma maratona de concursos sem resultados positivos, sonhos frustrados. Olhando assim, parece que 2019 me levou à derrocada e, infelizmente, é assim que me encontro: na vibe do derrotismo.
Mas ao abrir o Facebook para procurar uma foto, senti-me entrando no túnel do meu tempo. Vi algo bastante singular. É interessante que há poucos dias, conversando com um amigo, eu dizia a ele que precisava de uma foto minha triste para associar a um texto na página do Instagram, pois eu só tinha foto sorrindo. Então, olhando minhas fotos publicadas no Facebook, eu disse a mim mesma:
– Caramba! Quantos momentos surpreendentes eu vivi em 2019!!!!
Sim, fotos e sorrisos, muitos sorrisos. Muita coisa boa aconteceu. Vi pessoas partindo, mas outras chegando. Vi um coração dolorido, lutando para ser reconstruído. Vi muita beleza brotando do caos.
Foi um ano abençoado certamente. No trabalho tive alunos mais que especiais, que me ensinaram muito. Acho que um professor só se torna um real professor, quando ele permite que seus alunos o ensinem também; não me refiro ao conteúdo científico, mas à prática da empatia e do acolhimento. Alunos são constantes desafios que podem nos provocar a nos tornarmos uma versão mais forte de nós mesmos. Além disso, em 2019 tive sim a oportunidade de lecionar, algo que eu não esperava, mas 2019 fez acontecer. A experiência fez-me sentir mais realizada, mais forte.
Foi um ano que me proporcionou ter uma irmã, ainda que por um curto período. Sou filha única, mas fiz uma irmã do coração. Uma prima que passou um tempo conosco. Não tínhamos muita intimidade antes, mas descobrimos o quanto somos parecidas no gênio e nos ideais. Tinha dia que mal nos falávamos, mas noutros, passávamos horas compartilhando nossas histórias e sonhos. Ela sempre tinha um chocolate pra me animar quando eu ficava dowm. Ela partiu da casa, mas estará sempre na minha alma. Uma garota doce, com toque de ardência. Ela é literalmente chocolate com pimenta!
O momento que mais me marcou foi quando eu tive, olha que interessante, “A garota de dez anos atrás” publicado numa coletânea. Foi uma vivência maravilhosa, que me proporcionou conhecer pessoas que se tornaram amigos especiais. E com a repercussão dessa participação, fui convidada a fazer uma apresentação com meus textos em um Chá Literário na escola técnica da minha cidade. Que momento! Ali eu vi o quanto eu tinha crescido como mulher. Dividi o palco com um professor da minha adolescência. Nunca vou esquecer o que ele disse quando foi se apresentar. Ficou surpreso de me ver falando e disse assim:
- Quem viu a Haliny a alguns anos atrás – uma menina tímida que nem falava.... Hoje está aí: essa mulher linda e sem vergonha.
Chega a ser engraçado. Ele é mesmo do tipo de pessoa que nos faz sorrir. Sempre teve carinho por seus alunos. Grande pessoa!
Foi isso: um ano cheio de surpresas que de mim fizeram brotar sorrisos. Foi um ano que fiz história, que escrevi histórias e as eternizei. Escrevi bastante. Um ipê amarelo foi inspirador, das suas flores eu extraí essências de vida. Foram crônicas, frases, poesias... sentimentos materializados em palavras. Foi principalmente a escrita que me trouxe os mais singelos sorrisos.
Acho que 2019 extraiu minha essência, fez com que eu florescesse as melhores flores, expusesse sorrisos mais verdadeiros. Aqueles que vêm de dentro, vêm da alma. Aqueles que se abrem para a vida entrar. Não é à toa que foi o ano que “TRINTEI”! Trinta anos num ano repleto de significados – encaixe perfeito; trinta anos na melhor versão de mim, mais amadurecida, mais gostosa, mais mulher.
Claro que nem todos os momentos foram floridos. Que ano turbulento também! Passei por mudanças o tempo todo. Mudanças essas que me levaram a aprender a criar no caos. Criar e sorrir. Contudo, não é fácil sorrir quando os sonhos se distanciam e a esperança parece esmaecer. Mas se sorrimos, foi porque houve vida, pois sorrisos não nascem de almas mortas.

                                                                                                                                                               Haliny

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Razões para escrever




A minha frente a folha de papel em branco, ansiando que a caneta ao lado penetre suas linhas vazias. Cansada de viver branca e limpa, deseja que aquela caneta lhe marque, lambuze de tinta. Ela deseja conhecer uma história; aliás, ela deseja portar uma história, tornar-se interessante aos olhos de quem a vê. Branca, quem a observará? Mas escrita, marcada, rabiscada, desenhada, atrairá atenção.
Eu ali, olhando aquela folha em branco; a mente divagando... A folha: branca; minha alma: vazia. Não há palavras, não há escrita. E a folha lá continuou, completa de vazios...

Recordo-me daqueles dias em que eu chegava na escola para trabalhar, um tempo antes do horário da aula. Ao invés de ir para a sala de professores, eu preferia me refugiar na sala de aula vazia. Degustava o momento... a sala vazia, sem a costumeira agitação dos alunos, aquele silêncio criava um contraste; diferente do que seria minutos em seguida, naquele momento, o silêncio é que gritava. Eu aproveitava aquele momento de solidão. Lia, refletia, escrevia, pensava, chorava...
Mas houve um daqueles dias em que eu, sentada naquela sala olhando para o nada, vi algo além. Quem já teve a oportunidade de adentrar uma sala de aula, sabe que é normal ser um ambiente com uma decoração peculiar. As paredes cobertas de cartazes, desenhos, trabalhos dos alunos, recadinhos do professor, exposições de textos, temas; isso a faz ser dinâmica, viva. É muito legal porque a gente fica olhando aquelas atividades expostas, lendo os conteúdos, as mensagens e, com isso, podemos conhecer parte das histórias de vida dos alunos que por ali passam um período da vida.
Quantas vezes eu já tinha entrado naquela sala. Mas naquele dia eu vi: as paredes estavam brancas, vazias. Uma tristeza se deu em mim, aquela sala não tinha história, não tinha vida. Paredes brancas são mortas.
É interessante observar que a escola tinha passado por uma reforma. As paredes foram pintadas, portanto, não seria legal marcar as paredes recém pintadas. Ordem da direção, manter as paredes limpas para preservar. É compreensível, mas nem sempre limpeza demais é saudável.
Bom, isso nos faz pensar que a vida é como uma sala de paredes brancas. É normal que a sociedade, a família, a religião, etc., nos digam que devemos nos manter limpos. Mas até onde essa limpeza nos ensina a viver, mostrar o que somos? Somos alunos na escola da vida, gerenciamos nossa sala. Nossas paredes devem ser decoradas com nossas ações, fruto das nossas escolhas, onde expomos nossos erros e acertos e, por isso, vamos crescendo, evoluindo e amadurecendo. As sujeiras podem se tornar aprendizagens. E estas é que nos ajudam a preencher nossos vazios.
Por vezes não conseguimos compor a nossa história. Por vezes, silenciamos nossa vida. Mas devemos escrevê-la, sem medo de errar, pois errando, temos a oportunidade do concerto; concertando, fluímos mais de nós mesmos e, com isso, gerenciamos com maior segurança nossa humanidade.

De repente, me volto novamente àquela folha em branco. Desbloqueando a mente, pego a caneta. Ainda não tenho as palavras... o importante é escrever. Se sairão palavras harmoniosas, belas poesias, não há garantia; se terão coesão, não sei. E isso realmente não importa! Disformes, tímidas, sombrias, borradas, tristes ou sem sentido, necessário é colocá-las na folha em branco. Depois vamos arrumando, fazendo os ajustes. Mas permitir que saiam, que fluam, pois com erros e concertos, uma história vai se fazendo.
As razões para escrever? Para dar sentido a uma existência vazia, permitir que a vida produza histórias, seja vista, seja lida. Compor a própria história, dar cor à alma sombria – escrever para não ser uma página em branco, escrever para viver!

                                                                                                                                 Haliny