Novamente chora a alma aqui
dentro. De volta ao canto solitário do desânimo. Não lágrimas tempestuosas; é
um frio e silencioso choro, mas que transborda palavras. Ela não esperava a
volta de geladas nuvens ao estar sendo aquecida por um quente sol de verão.
O que as nuvens dizem?
Elas dizem que o sol aquecera
demais a terra, que agora necessita refrescar. Elas vieram refrescar a terra
para que esta não pereça nem fique sequiosa por tanto calor. Ela precisa ser
regada. Ao receber as finas gotas a terra põe fim ao que seja excesso e se
renova. Logo, estará pronta para novamente ser tocada pelo sol. Mas agora sua
necessidade é o descanso, as sombras e as suaves águas das nuvens, já que
aquele sol fora intenso demais.
O que a alma diz?
Ela diz que aquele sol a aquecera
tanto, que ela chegou a pensar que ele ficaria até o fim da estação. Mas não
foi assim. Aquele intenso sol de verão se fora levando consigo tudo o que
prometera. Mas por mais que a alma não as queira, ela necessita de nuvens em
meio ao verão; necessita de lágrimas que a refresquem, que ponham fim ao que
for excesso e a renove para um novo sol.
A vida é assim. Dias chuvosos e
gelados fazem parte, mas é difícil passar por eles sorrindo. Dias de lágrimas. Dias
que doem.
O que fazer agora? Como superar
essa chuva?
Já sei. Lembro que quando criança,
eu desejava brincar, tomar um banho de chuva; só que existia uma barreira que
me impedia chamada mãe. Vou voltar à
velha infância: vou...
...caminhar na chuva!
Carpe Diem! Vou colher o que o dia me oferece.
Mas o que será que posso colher na chuva?
Caminhar na chuva. Não importa se
a estrada é a mesma, você sempre verá algo novo. Não tenha medo –mesmo que sua mãe diga que você está maluca. Não tema
ser acometido por uma gripe – depois você toma um remédio. Não se importe de
sujar o seu tênis – depois a água limpa. Só não perca essa chance de vida!
Foi o que fiz. Deixei pra trás os
receios, calcei o tênis e parti. E daí?
Sentir na pele o toque daquela
chuva fria, indescritível sensação! A água que regava a terra adentrava meu
corpo refrigerando a alma. Vi tanta coisa.
Ver a chuva cair. Os pássaros não
deixaram de voar nem cantar. Vi uma terra colorida ainda que encoberta por
cinzentas nuvens. Vi que há muita, muita vida em meio à chuva, basta sabermos
enxergar. Imagina todo o leito de um rio coberto por um tapete de resplandecentes
brancos lírios; lírios são flores de vale. Olho para o céu – apenas nuvens? Não! vi um solitário helicóptero
passeando dentre elas (piloto corajoso!). Toquei as folhas molhadas. Elas ficam
retraídas, mas sorriem para mim. Não há sorriso tão verdadeiro. Vi flores de múltiplas
cores. Tive de colhê-las.
Bom mesmo é voltar a ser criança
e fazer imagina o quê? Pisar nas poças que se formam na estrada. Incrível. Por mim
passaram alguns carros. Imagino o que aquelas pessoas pensaram ao var alguém
caminhando na chuva e colhendo flores. Pensaram que eu deveria ser maluca, ou talvez sentiram
inveja e pensaram: “Como eu gostaria de deixar esse carro e também caminhar na
chuva.”
Liberdade é isso mesmo: cometer
algumas loucuras. Mas louco mesmo é quem não vive, quem não se dá
oportunidades, que fica preso dentro da sua casa, preso dentro do seu carro,
preso dentro dos seus medos de se molhar, de se sujar, de adoecer, de viver. Nós
adoecemos se não vivermos, se não fizermos. Quanta coisa linda eu teria privado
meus olhos de verem e minha alma de
sentir se tivesse ficado no conforto do meu quarto.
Ah alma minha! Caminhe nesta
chuva. Se molhe, se suje, adoeça para sarar esta dor. Permita que as águas te
renovem; colha as flores que ela alimenta e enfeite-se delas; não se prenda a
este canto solitário, se envolva, aproveite para saltar em meio às poças
formadas por suas lágrimas, pois logo, elas secarão. Desprenda-se do que já não
está mais presente e abra seus olhos para o
novo. Colha o que a chuva te oferece.
Valeu a pena caminhar na chuva. As
flores que durante a caminhada colhi
agora colorem e alegram o meu quarto do conforto.
É caminhando na chuva que a alma
encontrará flores para colher e trazer um pouco de alegria ao canto solitário
do desânimo.
Carpe Diem!
Haliny
Muito lindo!Eu também queria voltar a ser criança! Era tão divertido correr na chuva com os amigos!
ResponderExcluirObrigada por prestigiar este texto.
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