quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A um indisciplinador de almas


“A minha vida indisciplinadora de almas.”
                                  (Fernando Pessoa)

Ao ler esta frase, logo me veio à cabeça você. A pessoa que indisciplina minha alma.
Encontrei em Cortella um pensamento que cabe aqui. Ele diz que “ existe uma indisciplina saudável, aquela que nos tira das trilhas de um conforto perigoso, que nos faz pensar de outro modo, que nos leva a sonhar.” E eu completo dizendo: sonhar e realizar. Realizar aquilo que nos torna o que realmente somos; o que somos na alma.
Bem! Muitas vezes em nossa vida somos levados a absorver certa disciplina. Disciplina esta que nos é imposta, que dita regras, nos acorrenta, que diz o que é certo e o que é errado, o que devemos fazer, o caminho que devemos seguir, como devemos proceder. Quer que sejamos certinhos, impecáveis como ela deseja. Mas essa disciplina nos infelicita já que pode nos colocar numa rota indesejável. Uma rota de angústias, solidão.
A disciplina nos faz viver o que seria regular, ideal, normal, ainda que não necessariamente nos agrade. Mas quando ela se torna uma sofrida obrigação, nos levando a fazer o que não desejamos, nos vemos mergulhados num mar de dor. O que se torna ainda pior ao afirmar que aquilo que é o desejo da nossa alma é errado, pecado; e o lugar onde ela almeja ir é inapropriado. Caos!
No mar da dor começamos a nos afogar, precisando urgentemente de um salva-vidas, antes que pereçamos.
É aí que você surge. Você é o salva-vidas da minha alma, estendendo-lhe a mão, colocando-a em seu barco, ajudando-a a enxergar uma nova rota, a rota do desejo e não mais a rota  da pesada disciplina.
Você faz a alma a começar assumir suas próprias vontades, a ser sujeito e não objeto; a viver uma ‘indisciplina saudável’, tirando-a “das trilhas de um conforto perigoso”, a brindar a vida com o vinho da liberdade.
Você indisciplina minha alma para que ela possa realmente viver.
Você é uma “insuportável” vida indisciplinadora de almas. E minha alma aprende que é a indisciplina que a dá vida.
Quem sabe um dia eu também venha poder indisciplinar algumas almas...
                                                         

                                                         Haliny

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