Vejo no Facebook
diversos amigos postando fotos de 2009 com uma de 2019, mostrando como eram e
como estão agora. O intuito é fazer uma comparação, destacando principalmente
as mudanças estéticas. Ok, achei a ideia bem legal; é divertido ver como
algumas pessoas mudaram: o corpo, o cabelo, a vestimenta, o rosto...
Não tive vontade
de entrar na brincadeira. Mas então me deparei com a seguinte frase:
“ A garota de
dez anos atrás acharia a mulher que você se tornou uma pessoa incrível.”
(Larissa Borges)
Daí, você,
leitor dos meus escritos, já sabe, né? Mil coisas passaram pela minha mente.
Por que não? Por que não entrar na brincadeira? Mas não simplesmente postando
fotos que mostram se mudei ou não em dez anos fisicamente, apenas! Vou além;
farei uma fotografia descritiva da alma. Sua alma continua com a mesma estética
Haliny? Tem o mesmo peso? Usa as mesmas roupas? Calça os mesmos sapatos? No
rosto o mesmo sorriso?
Deixe a timidez,
de dez anos, longe de você e revele-se! Brinque também, da maneira que você
gosta, mas mostre suas mudanças, seu crescimento, sua força. Seja inspiradora!
Haliny – a
garota de dez anos atrás...
Era uma vez uma
garota insegura, medrosa, reprimida, de poucas palavras, poucos amigos, cercada
pela muralha da timidez, raro eram as pessoas que conseguiam acessá-la,
tirar-lhe um tímido sorriso.
Mas ao mesmo
tempo aquela garota, mesmo com muita dificuldade, correra atrás do que queria.
Ela tinha grandes sonhos, intensos desejos, mas sempre era como se tentasse
correr na água; várias coisas atravancavam seus passos, porém não desistiu.
Há dez anos
aquela garota, mesmo timidamente, entrava para a faculdade. Que passo ousado
para uma pessoa tão tímida! Um desafio! Difícil deixar a casa, aquele conforto
seguro, porém perigoso, ter de enfrentar sozinha um mundo desconhecido e muito
maior do que o que ela vivera até ali. Ela pensava que a vida mudaria; que
faria amigos, tornaria mais independente, deixaria de ser uma simples
adolescente. Mas não fora assim. Logo
ela viu que suas amarras mentais a acompanhavam, impedindo que delas se
desvencilhasse. E continuou correndo em águas. Ela caminhava, mas não
progredia. O pior era que ela sempre esperava que algo surpreendente
acontecesse em sua vida, sempre esperava que esta lhe trouxesse os objetos dos
seus sonhos; sempre esperava que alguém a tirasse daquelas águas e que a
levasse a uma nova vida. Ela não conseguia enxergar que aquele milagre do novo,
do surpreendente, habitava em sua mente. Ela não enxergava que somente ela
mesma poderia tirar-se dali apenas mudando a direção dos passos, parar de andar
só nas águas e olhar para a terra tão próxima e caminhar em direção a ela. Aquelas coisas que atravancavam seus passos estavam
em sua própria mente. Precisava mudar o olhar, mesmo que não fosse fácil,
livrar-se daquilo que sempre acreditou. Olhar outras direções, criar novas
possibilidades e caminhar para onde desejasse. Na sua mente, estava o poder da
mudança mas ela não enxergava!
Os anos foram se
passando e, a cada ano, aquela garota continuava esperando e esperando que a mudança chegasse. Mas essa não chegava e, ela
que não sabia que nem chegaria se ela continuasse esperando sem buscar, ainda
conseguia dar seus passos, que não lhe bastavam. Ela queria caminhar por novos
lugares, ver outras paisagens.
Apesar disso,
ela se via cada vez mais infeliz, retraída, desanimada. Viu sua juventude
passar sem desfrutá-la de fato. Passou por pessoas que se tornaram amigas, mas
estavam adiantadas, não ficaram. Via-se
cada vez mais sozinha e viu que já estava começando a perder as forças por
caminhar demais naquelas águas obscuras. O pior poderia chegar a qualquer
momento: afogar-se em seu próprio oceano; permitir que as velharias da sua
própria mente, matassem seus sonhos, tirassem a vida. Se é que podia chamar de
própria vida a vida que levava, já que ela só esperava sem agir.
Um dia, no chão
do seu quarto, caiu. Ali, naquele canto solitário do desânimo, e chorou!
Ela chorou...
Suas lágrimas
misturaram-se com as águas. Tempestade naquele oceano. Aquela garota não sabia
mais quem era, em quem se tornara. “Quem é você, Haliny? Onde estão os seus
sonhos, seus objetivos? Onde estão os amigos? Onde está sua casa? Onde está sua
alma?” Ela indagou-se. Ali, naquele chão duro e frio, viu-se completamente só.
Mas foi ali naquele chão, sentindo-se um nada, humilhada, que a garota
finalmente enxergou que tinha de sair daquelas águas que lhe atravancavam o
caminhar. Foi o afogamento que lhe trouxe a consciência da importância do
respirar, do qual precisava desesperadamente. Oxigenar a alma para não perecer.
O primeiro passo
é muito dolorido, mas libertador. Não seria fácil quebrar o costume, mesmo que
já estivesse desgastado pelo tempo. Mas foi. Aproveitou o pouco ar que
dispunha, a fraca força que ainda nela habitava e se levantou daquele chão,
saiu daquele mar para caminhar na terra. Mas ainda estava muito fraca quando
chegou à terra. Não sabia para onde ir. Na água conhecia aquele mundo. Mas... e
agora? “E agora José?” O que faria? Para onde iria? Sozinha.
Antes precisaria
recuperar as forças e deitou naquela areia. Aquele repouso era necessário. Não,
era vital! Se ela saísse caminhando do jeito que estava, poderia perder a
direção, sucumbir; suas pernas estavam fracas. Antes teria que descobrir o
desejo, (re)descobrir, descobrir – tirar os lençóis que pusera sobre os sonhos
para não vê-los. E aí sim, quando estivesse recuperada, alimentada, com a mente
clareada, poderia seguir segura, mais forte e destemida. Isso não seria fácil.
O repouso não foi fácil, ela era ansiosa, queria que tudo acontecesse já! Mas a
mudança, o novo caminhar, não viria assim. Ela teria de viver o repouso para
redescobrir-se. Tinha que recuperar-se das dores que o velho caminhar impôs em
seu corpo que cortava suas entranhas. Precisava alongar os membros atrofiados.
Bem. Para se recuperar,
o lugar do repouso foi um divã. Toda a desordem
estava em sua mente. Esta precisava se rever no repouso da psicologia. O
repouso foi difícil no início, mas essencial. Na terapia viu tanta, tanta
coisa. Descobriu coisas horríveis, mas também coisas incríveis. Teria que fazer
um retorno para ver de onde saíra e para onde iria...
Após o término
da faculdade, aquela garota voltara para casa. Sentia-se triste, pois não veria
mais os amigos nem teria para onde ir. Era hora de conseguir um emprego, mas
este não veio. Que frustração! Presa naquele mundo sem poder nada fazer.
Sonhava em conhecer um cara especial, mas este não surgia. Tinha vontade de
viajar, passear, sair para jantar, mas ninguém a levava. E assim foi por anos,
com desejos reprimidos. Certo ano veio
um emprego. Bom! Poderia ver novas coisas, conhecer novas pessoas, quem sabe
fazer amigos?
Só que o que
mudou foi uma situação e não sua mente. Continuava correndo na água. Ela não
conseguia se relacionar com as pessoas, fazer conexões. Com o tempo, sentiu-se
mais frustrada e isolada. Vieram as crises. Descobriu que aonde quer que ela
fosse, continuando a carregar aquelas amarras mentais, não haveria
transformação. Não seria simplesmente a mudança das situações, seria além. Não
era fora, era dentro. Era ela que teria de mudar. Só ela. E só, ela teria que
enfrentar a ela mesma. Só não sabia que seria tão doloroso, que seria como
arrancar a própria pele, escorrer sangue, que teria que desnudar-se.
E assim, mesmo
com muita vergonha, desnudou-se, tirou as velhas roupas e olhou para dentro de
si. E foi, lenta e timidamente que suas amarras começaram a se desfazer. Ela se
assustou tanto! Descobertas incríveis. Aos poucos se recuperava naquele
hospital da alma. Logo poderia se levantar para dar uns primeiros passos,
visualizar uma rota. Descobriu que tinha sido forte por andar tanto tempo presa
e que precisaria de muita força para suportar a dor da sua metamorfose.
Mas valeu a
pena! Valeu o esforço. Vale a dor. Hoje em 2019, aquela garota se reconstrói, torna-se
mulher. Claro que ela sabe que essa construção não terá um fim, pois ela
aprendeu que viver é isso: uma eterna reconstrução, ter a capacidade de se
refazer após cada queda. Isso é crescimento, evolução, amadurecimento. Ficar
estagnado na vida pode ser letal. A vida é uma constante mudança, constante
movimento; precisa de ação. Quando paramos adoecemos, literalmente. Ficamos
cheios de neuroses.
Ela adquiriu uma
força incrível para conseguir o que quer. Já não espera mais um grande milagre
chegar, pois ela é o milagre; corre atrás, luta. E mesmo que não consiga,
sente-se feliz porque agora ela encontrou sua capacidade de tentar. Hoje, tudo
é resultado de suas próprias ações. Hoje, ela vai sozinha; já não mais depende
que alguém a leve. Se tiver companhia, ótimo; se não, não há problema: ela é
sua melhor companhia. Sai para jantar, comer uma pizza, ir ao cinema. Ela ama
estar só com ela mesma, pois assim pode ouvir melhor a voz da sua alma. Mas
isto não a impede de conhecer novas pessoas. Ao contrário. Ela busca e
conecta-se a novas amizades. Aliás, ela está mais seletiva; não aceita qualquer
amizade não! Cansou de amizades abusivas. Hoje, ela sorri com ousadia, anda de
cabeça erguida, é determinada, vê-se incrível; não tem medo de mostrar-se.
Deixou de usar aquelas velhas roupas sem cor nem alegria para vestir-se
com as novas e coloridas roupas
adquiridas.
Bem! Esta não é
uma história clichê. Não tem o final feliz como nos contos de fadas. Aliás,
esta história não tem fim. Ainda bem! Ainda há muita luta e mudança a ser
feita. E isso não depende de uma fada; depende somente dela, e ela, não quer
fim; quer vírgulas, continuidade.
Ah! Você pode
estar se perguntando: “E o príncipe?” Ela não quer um príncipe encantado.
Príncipes encantados são efêmeros, fantasias. Ela quer um homem, humano, com
belezas e defeitos. Um homem real.
Uau! Quanta
transformação! Foram muitos sofrimentos neste processo, mas essenciais.
A garota de dez
anos atrás não sabia que dentro dela habitava uma mulher incrível, que só
precisava nascer. A mulher de 2019 descobriu que a garota de dez anos atrás era
como uma planta, cuja beleza estava escondida sob folhas secas, que só precisava ser podada e regada para
florescer o melhor de si.
Na garota de dez
anos atrás havia uma mulher forte, linda e invencível que apenas dormia. Mas os
intensos e clamantes sonhos a fizeram acordar para vivê-los a cada dia!
Haliny